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Thursday, June 10, 2021

Projeto de ‘carro voador’ atrai atenção internacional e dá bem-vindo fôlego à Embraer - Economia & Negócios Estadão

A confirmação de negociações pela Embraer com a americana Zanite para uma combinação de negócios visando à capitalização da subsidiária Eve, responsável pelo desenvolvimento de seu “carro voador” (ou eVTOL, na sigla em inglês), foi vista como uma bem-vinda injeção de ânimo para a fabricante brasileira após longo período de dificuldades. O mercado reagiu positivamente à negociação, que analistas veem como um possível “ponto de virada” para a brasileira. As ações da empresa subiram 15,61% nesta quinta-feira, 10, na B3, a Bolsa paulista, cotadas a R$ 20.

A informação vem depois de uma fase difícil. Logo no início da pandemia de covid-19, a companhia assistiu à demolição da combinação bilionária de negócios que havia firmado com a americana Boeing, após um longo período de negociações e aprovações regulatórias em todo o mundo. 

Em meio a um mercado em crise, por causa da redução dos voos naquele início de pandemia, a Embraer se viu sozinha e tendo de arcar com os custos de reunificar suas operações: isso porque o contrato com a Boeing se concentrava no segmento comercial, com as áreas militar e executiva ficando na companhia “velha”. O fim do negócio virou uma briga na Justiça entre as duas fabricantes.

As dificuldades ficam transparentes nos resultados recentes da Embraer. Em 2020, a empresa acumulou prejuízo líquido de R$ 3,6 bilhões, uma alta de 174% sobre as perdas de R$ 1,3 bilhão do ano anterior. No ano passado, a empresa entregou 148 aeronaves, ante 208 de 12 meses antes. Em relação aos pedidos, a carteira somava US$ 14,4 bilhões em dezembro último, ante US$ 16,8 bilhões um ano antes.

Diante das dificuldades, a busca de parceiros para novos projetos virou uma necessidade, e não uma opção. O projeto do eVTOL,  iniciado em 2017, não previa inicialmente aportes financeiros de terceiros. A intenção era que parcerias fossem criadas apenas para ajudar no desenvolvimento de tecnologias que fogem do escopo da Embraer. 

Hoje, a Embraer tem um endividamento alto (US$ 4,4 bilhões) e uma geração de caixa baixa que dificulta a criação de novos empreendimentos de forma independente. O presidente da companhia, Francisco Gomes Neto, afirmou ao Estadão, em 2020, que até o projeto de uma nova aeronave turboélice que vinha sendo programado não se concretizará se não houver um parceiro.

Credibilidade

O interesse de um estrangeiro pelo “carro voador” da Embraer foi visto por analistas como uma boa notícia em um período difícil. Ele também pode ajudar a reavivar na memória do mercado a grande capacidade de engenharia que a empresa tem – com a vantagem de um viés de inovação. Além disso, com a economia se recuperando mais rapidamente do que o esperado, há a expectativa de que a demanda por novas aeronaves cresça, favorecendo também o negócio principal da companhia.

Analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila destaca que a busca por novas oportunidades em tecnologia tem sido um movimento crescente dentro da Embraer. “Soluções disruptivas de mobilidade aérea urbana podem trazer o mesmo tipo de benefício que a aviação já trouxe para viagens mais longas, dando aos passageiros urbanos mais opções para se deslocarem pela cidade”, afirma. 

“A notícia pode ajudar a companhia a recuperar valor de mercado enquanto seus mercados tradicionais ainda se encontram sob condições disfuncionais (por causa da pandemia)”, comenta o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman

Previsto para ser uma alternativa para trajetos curtos, o eVTOL vinha ganhando tração ao longo das últimas semanas.

Recentemente, a Embraer anunciou duas encomendas: uma de 50 veículos para a Helisul Aviation, que opera helicópteros na América Latina, e uma de 200 unidades para a Halo, que fornece serviços de helicópteros e mobilidade aérea urbana privada nos EUA e no Reino Unido.

A Embraer confirmou hoje a negociação com a Zanite, sem dar detalhes sobre o projeto. 

Capitalização da Eve envolve ‘IPO do cheque em branco’

Em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a fabricante aeronáutica Embraer informou que sua subsidiária dedicada aos carros voadores – a Eve – iniciou negociações relacionadas a uma possível combinação de negócios com a Zanite, uma companhia de capital aberto dos Estados Unidos com propósito específico para aquisição (Spac, na sigla em inglês)

Em comentário a clientes, os analistas Victor Mizusaki e Pedro Fontana, do Bradesco BBI, avaliaram que a notícia é positiva para a Embraer, já que a fabricante brasileira de aeronaves tem valor de mercado de US$ 2,5 bilhões e apenas a Eve Urban Air Mobility, sozinha, poderia atingir um valor de mercado de US$ 2 bilhões, graças à operação de Spac com a Zanite. 

Trata-se de uma operação que tem sido muito usada ultimamente no setor de tecnologia e que foi apelidada de “IPO do cheque em branco”. Essa definição está ligada ao fato de que primeiro os investidores levantam o dinheiro, fazem a listagem de uma empresa sem ativos na bolsa (a Zanite, nesse caso) e depois correm atrás de candidatos para serem adquiridos (nesse exemplo a Eve, subsidiária da Embraer). 

Esse mercado, embora arriscado, pois envolve apostas milionárias (ou, neste caso, bilionária) em negócios pouco provados, está em franco crescimento nos Estados Unidos. O boom nos EUA está transparente em números. De acordo com dados do centro de inovação brasileira Distrito, as Spacs no território americano saíram de 59 transações, em 2019, para 248, em 2020. Até abril de 2021, foram 308 operações. O modelo de financiamento por Spacs ainda não tem regulação no Brasil, e a visão de analistas é de que isso é natural, dado o desenvolvimento limitado do mercado de capitais no País.

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