Enquanto a massa salarial do brasileiro encolhe, o mercado de crédito cresce a dois dígitos no acumulado de 12 meses. Nesse contexto, o endividamento das famílias bateu novo recorde em março, com 58%, segundo divulgado pelo BC (Banco Central) nesta segunda-feira (28).
O dado, calculado desde janeiro de 2005, considera o estoque dos financiamentos das famílias com relação à renda em 12 meses. O nível de endividamento passou de 50% pela primeira vez em julho do ano passado.
Em 12 meses, o indicador cresceu 8,6 pontos percentuais –em março de 2020, o percentual estava em 49,4%.
O estoque total de crédito para as famílias chegou a R$ 2,3 trilhões em março deste ano, aumento 12,1% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
O crescimento expressivo do crédito, contudo, não é o único fator que explica o aumento do endividamento. No período, a massa de rendimento do brasileiro, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) foi reduzida em R$ 15,2 bilhões, somando R$ 212,5 bilhões em março.
A massa salarial ampliada acumulada em 12 meses, calculada pelo BC, chegou a R$ 3,26 trilhões em fevereiro (último dado disponível), R$ 171,9 bilhões menor que a registrada em março de 2020. Nessa conta, além dos salários, a autoridade monetária considera benefícios previdenciários.
"O ideal é que a massa salarial cresça, mas o movimento faz parte das idas e vindas de uma recuperação [econômica], nem sempre caminham no mesmo sentido", disse o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha.
Quando o mercado de crédito para pessoa física cresce proporcionalmente à massa salarial, o indicador de endividamento fica estável.
O comprometimento da renda mensal do brasileiro com parcelas de empréstimos, por sua vez, permaneceu estável em relação a fevereiro, com 30,5%, mas cresceu 0,5 ponto percentual em relação ao mesmo mês do ano passado.
Segundo Rocha, no período, as famílias conseguiram condições melhores de crédito e saíram de linhas mais caras para mais baratas.
Além disso, os juros caíram 5,5 pontos percentuais no período, o que explica que, embora o endividamento tenha aumentado de forma expressiva, o comprometimento permaneça estável.
"Prazos mais longos também podem ajudar a explicar o movimento", afirmou Rocha.
Ao excluir financiamento imobiliário, linha de longo prazo que normalmente consome maior percentual da renda das famílias, o endividamento chega a 35,7% e o comprometimento a 27,9%.
O comprometimento leva em conta a renda mensal em relação a uma estimativa correspondente aos pagamentos das parcelas.
Como o dado considera uma média móvel trimestral, há uma defasagem de três meses em sua divulgação, por isso, o último dado disponível é o de março.
Para Rocha, o nível de endividamento ainda não é um fator de preocupação. " Se recuperarmos a massa salarial, essa tendência pode ser interrompida ou revertida", ponderou.
Renda menor e crescimento da oferta de crédito levam endividamento das famílias a novo recorde - Folha de S.Paulo
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