Pressionado pelo setor de commodities, em um dia negativo para ativos de risco em todo o mundo, o Ibovespa abandonou a alta do começo do dia e fechou em firme queda. Após ajustes, o índice terminou em baixa de 0,93%, aos 128.057 pontos, com giro financeiro de R$ 26,041 bilhões.
Desta vez, o gatilho veio com a preocupação do Federal Reserve - mostrada em sua decisão de política monetária ontem - sobre os rumos dos juros nos Estados Unidos, o que trouxe receios sobre uma futura desaceleração da retomada global.
As ações ordinárias da Vale, por exemplo, fecharam em queda de 2,08%, aos R$ 105,90, já com alguma distância para a máxima histórica, de R$ 118,72, registrada em 11 de maio. Com isso, o papel cai 7,74% em junho, mas ainda sobe 26,39% no acumulado do ano.
Ainda entre as maiores perdas do dia, as siderúrgicas (CSN, Gerdau e Usiminas) caíram entre 2% e 5%, enquanto as ações preferenciais de Petrobras tiveram perda de 3,47%, aos R$ 28,13.
Não bastasse esse fardo, o dia contou também com incertezas em torno do encaminhamento da MP de privatização da Eletrobras devido aos acréscimos no projeto, que poderão dificultar a aprovação. As ações ordinárias da companhia caíram 3,05% e as preferenciais cederam 3,18%. “Lotaram a MP de penduricalho. Isso aumenta o custo de aprovação. Não é a privatização em si, mas tudo o que veio a reboque na MP”, explica um gestor.
Voltando para a questão das commodities, o mercado “começa a precificar uma desaceleração do crescimento com a perspectiva de alta de juros no mundo. Isso pesa no curtíssimo prazo no setor de commodities”, explica Luis Sales, estrategista-chefe da Guide Investimentos.
Além disso, o segmento se ajusta a uma recuperação relativa do real, o que também reduz a atratividade das empresas exportadoras já que seus produtos tendem a perder competitividade no mercado global. O movimento do câmbio é uma resposta a postura, também dura, do Banco Central do Brasil no combate à inflação. Diversos agentes do mercado estão revisando suas projeções para a Selic para mais de 6% no fim deste ano.
“A grande dúvida no momento para os investidores é: vender as ações antes de uma possível correção dos preços das commodities ou comprar nos níveis atuais de ‘valuation’ barata e com uma perspectiva boa de dividendos e redução do endividamento”, afirmam os analistas do BTG Pactual. Para eles, a segunda resposta parece ser a mais correta.
Eles acreditam que o mercado já está precificando uma forte e permanente queda nos preços, “no qual temos uma dificuldade em acreditar que o mesmo vá se materializar”. Embora o ritmo do crescimento chinês desacelerou, qualquer incremento na demanda, dados os preços atuais de commodities, é similar ao visto no ciclo anterior. Além disso, a equação da oferta parece ser muito mais desafiador com a aplicação de critérios ESG (ambiente, social e de governança) pelo mundo. Inclisive, “algumas commodities podem enfrentar um aumento na demanda com o esforço de descarbonização por parte da China”, acrescentam.
“Mesmo assumindo um correção de 40% nos preços do minério de ferro, Vale ainda estaria operando nos níveis de 3 vezes EV/EBITDA (cálculo de quantas vezes uma empresa vale em relação a seu lucro líquido), o que vemos como excessivamente descontado”, acrescentam os analistas ao indicarem o papel da mineradora como o preferido para o setor.
— Foto: Valor
Setor de commodities volta a pesar e Ibovespa cai a 128 mil pontos - Valor Econômico
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