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Monday, August 30, 2021

Com a gasolina em alta, veja como os motoristas se viram para abastecer - Jornal Extra

O litro da gasolina a quase R$ 7 não impacta somente o bolso de quem é dono de um veículo. Esse valor se reflete diretamente no orçamento doméstico de quem anda de trem, metrô, ônibus; de quem dribla o desemprego fazendo transporte por aplicativo e de quem dirige os famosos amarelinhos que circulam pela cidade. No acumulado deste ano até julho, o preço do combustível já avançou 27,51%, enquanto o do diesel registrou alta de 25,78%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

No site da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (https://preco.anp.gov.br/), é possível pesquisar os postos por estado e município e o valor do combustível. A pesquisa é fundamental antes de abastecer, orienta o educador financeiro, Alexandre Prado, que preparou dicas para o leitor economizar.

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Um levantamento feito pela ANP entre os dias 15 e 21 de agosto mostrou que o preço médio do litro da gasolina está em R$ 6,42. Em um posto BR em Irajá, na Zona Norte do Rio, o litro da gasolina comum saía a R$ 6,799, o valor mais alto da pesquisa de preços. Em um posto de bandeira branca o combustível custava R$ 5,899, em Ramos, também na Zona Norte.

A alta tem afugentado motoristas, que andam rodando bastante para achar combustível mais em conta e não ter uma "garfada" considerável no bolso.

Ricardo Guimarães, de 59 anos, taxista há 29: dificuldade para equilibrar as contas
Ricardo Guimarães, de 59 anos, taxista há 29: dificuldade para equilibrar as contas Foto: Arquivo pessoal

Taxista há 29 anos, Ricardo Guimarães, de 59, morador do Engenho de Dentro, na Zona Norte, reclama que está muito caro abastecer com qualquer tipo de combustível.

— Está quase impossivel controlar gastos pessoais e abastecimento. Quando estamos quase fazendo uma féria boa, o tanque baixa, e temos que abastecer. Praticamente leva a metade do que ganhamos no dia — lamenta Ricardo.

Técnico de Enfermagem e motorista de aplicativo, Carlos Guilherme dos Santos, de 38 anos, de Coelho Neto, também na Zona Norte do Rio, conta que tem pesquisado antes de abastecer, mesmo tendo GNV no carro.

— Busco postos de gasolina em que confio e que têm preços mais realistas, uma vez que não faço nada sem o carro. Na maioria das vezes, abasteço na Zona Norte e no Centro. Nas zonas Oeste e Sul não dá — explica.

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Regiões como Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, diz ele, têm valores mais elevados, tanto para o GNV quanto para o combustível líquido.

— É praticamente inviável para uma pessoa que tenha o carro alugado permanecer nas plataformas de transporte por aplicativo, porque a despesa fica muito alta — diz.

Os motoristas que trabalham em aplicativos têm que desembolsar uma taxa para a plataforma que pode chegar a 25%. A despesa somada ao combustível e à manutenção do carro é o fator citado pelo motorista para reduzir o número de viagens.

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Taxista há oito anos, Daniel Maia, de 35, morador de Irajá, opta por utilizar etanol no táxi, que também tem GNV.

— Parei de colocar gasolina. Agora uso etanol quando preciso abastecer o carro. Coloco R$ 30 e mesmo assim só de vez em quando — diz o taxista Daniel Maia.

Pressão sobre os alimentos

Embora o combustível mais utilizado no transporte de carga seja o diesel, o aumento da gasolina acaba impactando indiretamente o preço dos alimentos. O alerta é do economista e professor do Ibmec/RJ e da Fundação Dom Cabral, Gilberto Braga.

— O impacto é indireto porque, obviamente, a gasolina não é um alimento e não faz parte dos itens que a compõem a cesta básica. Mas o frete dentro das maiores cidades tem sido feito de forma cada mês frequente por automóveis de pequeno porte, que usam gasolina como combustível, ante as restrições de horários de circulação e entrega dos caminhões que usam diesel. Assim, há impacto de custo que varia de acordo com o maior ou o menor uso de veículos movidos a gasolina na cadeia logística — explica o professor.

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No Rio, por exemplo, o uso dos chamados carros pequenos e até de motoristas de aplicativos se intensificou durante a pandemia, na medida em que muitas compras passaram a ser feitas pela internet, diz Braga.

— As redes de supermercado e de varejo, em geral, disputam quem consegue entregar de forma mais rápida as encomendas. Por isso, o uso de veículos menores, que utilizam a gasolina como combustível, passou a ser constante — acrescenta.

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Câmbio é o grande vilão, diz tributarista

O tributarista Fábio Ferraz, advogado e sócio da Tributtax, chama a atenção para o impacto da desvalorização do real ante a cotação da moeda norte-americana no preço dos combustíveis. Na sua avaliação, o câmbio é o grande vilão do aumento da gasolina. Além da Petrobras levar em conta o valor do petróleo no exterior, que é atrelado ao dólar, a formação do preço dos combustíveis também influencia o preço final. A formação é composta pelo preço exercido pela Petrobras nas refinarias, mais tributos federais (PIS/Pasep, Cofins e Cide) e estadual (ICMS), além do custo de distribuição e revenda.

— Com o aumento do dólar, o barril de petróleo teve uma alta considerável nos últimos tempos, e isso também teve impacto no preço do combustível final e na economia, como aumento da inflação e do transporte de carga, que acarreta um aumento em cadeia das mercadorias — avalia.

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Fábio Ferraz detalha esse impacto:

— O alimento que chega à mesa do brasileiro tem o impacto do transporte, porque ele está atrelado ao combustível e, consequentemente, o preço é repassado. Todos os produtos que dependem de transporte por rodovias vão sofrer o impacto da alta da gasolina, e o consumidor vai sentir esse aumento na cesta básica — pontua o especialista, destacando o impacto do ICMS no preço dos combustíveis

Hoje, o ICMS representa de 25% a 27% do valor final do combustível, em média.

— Esse aumento no preço da gasolina não é causado pela pressão dos impostos. Os tributos são vilões, mas o principal vilão é realmente o câmbio — diz o advogado: — Em alguns estados, a gasolina já está R$ 7, o botijão de gás de 13kg acima de R$ 100, e muito disso é causado pelo impacto do câmbio.

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Resposta das plataformas

Procuradas, as duas principais plataformas de transporte por aplicativo, 99 e Uber, informaram as medidas que estão tomando para minimizar o impacto da alta de combustíveis para os motoristas parceiros.

A 99 anunciou que vai zerar a taxa de intermediação cobrada dos motoristas em algumas viagens, em dias e horários específicos, durante os próximos meses. A medida valerá para todos os veículos cadastrados na plataforma, exceto táxis.

A 99 criou um subsídio chamado "corrida turbinada", que visa a oferecer, por determinado tempo, um pacote de bônus aplicado à dinâmica de preço das viagens sem onerar o consumidor final.

Já a Uber declarou que o valor dos combustíveis "foge do controle" da empresa e explicou que trabalha para ajudar os motoristas na redução dos gastos fixos. O app afirmou que oferece medidas de auxílio aos condutores, como desconto de 4% no preço do combustível abastecido na rede de postos Ipiranga.

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Dicas para gastar menos combustível

• Sabia que aceleradas bruscas e desnecessárias quando estiver dirigindo afetam muito a média de consumo do seu carro? Portanto, evite-as.

• O veículo engrenado gasta menos porque a injeção corta o combustível. Assim, evite a chamada "banguela" nas descidas.

• O uso do câmbio deve ser suave, pois não há necessidade de "esticar" a marcha. Andar com uma marcha alta devagar também aumenta o consumo.

• Evite altas velocidades: um carro consome cerca de 20% mais combustível quando está a 100km/h do que quando está a 80km/h.

• Manutenção é fundamental: se as velas estão ruins, a queima do combustível fica irregular, o que se reflete diretamente no aumento do combustível injetado e, consequentemente, no consumo.

• A calibragem dos pneus também influencia diretamente no consumo de combustível e deve ser feita no máximo a cada 15 dias.

• Atenção ao local onde abastece: combustível "batizado" interfere na média de consumo, pois a leitura do sistema de injeção eletrônica é afetada pela composição errada.

Fonte: Alexandre Prado, educador financeiro

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