Infortúnio de uns, oportunidade para outros, mas também num cenário complicado. Embalados pelo aumento da procura por locação e compra de geradores de energia, diante dos riscos de o país enfrentar um racionamento do insumo, os prestadores desses serviços temem a falta de equipamentos para suprir a demanda maior esperada neste ano. Empresas do segmento apontam em crescimento de 35% em 2021.
As atividades econômicas que dependem essencialmente da energia têm procurado garantir maquinário, como “precaução”, considerando que a geração mais cara das termelétricas e as medidas de estímulo à economia no consumo que o governo adotou não sejam suficientes para evitar apagões.
“O cenário de hoje representa um risco muito grande para quem tem a energia elétrica como componente estratégico do seu negócio. As empresas estão acompanhando as decisões do setor elétrico, mas já estão se preparando para um cenário que pode vir pela frente. Muitos estão procurando locação ou mesmo compra de geradores”, afirma Carlos Faria, presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace).
No auge da pandemia, entre o final de 2020 e início deste ano a cadeia produtiva de materiais para o setor trabalhou numa espécie de montanha russa. Houve paralisação de fábricas, redução de pessoal, suspensão de produção nas minas de cobre no Chile, elevando o preço do metal de R$ 40 aos atuais R$ 85 o quilo, vendido em barra para confecção de quadros elétricos. Outra fornte de pressão sobre os custos foram os reajustes dos preços de aço, que acumularam variação de 79% de janeiro de 2020 a março último, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
A situação, de acordo com Márcio Martins, sócio e diretor industrial da Geraforte Geradores, situada em Contagem, foi agravada com a crise provocada pelo encalhe do navio cargueiro Ever Given entre 23 e 29 de março no canal de Suzez, o que provocou bloqueio de uma das principais rotas marítimas comerciais do mundo. O incidente influenciou negativamente a importação de peças e semi-condutores, usados na fabricação de motores, e um dos principais componentes do grupo geradores, “com reflexos ainda hoje”, destaca.
Martins afirma que quanto mais se fala na possibilidade de racionamento, tende aumentar a procura de geradores, principalmente por setores que não podem ficar sem eletricidade. Entre 1º de julho de 2001 e 19 de fevereiro de 2002, durante o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), foi aplicado racionamento que estabelecia uma redução obrigatória de 20% no consumo de energia elétrica, sob ameaça de multa e corte no fornecimento.
Denancir Filipin, diretor comercial e sócio da Geraforte, explica que o mercado consumidor de geradores mudou em duas décadas. “Há grupo gerador para todo tipo de consumidor, em termos de potência, quem usa de 10 a 1 milhão de kilowatts/dia. O agronegócio tem puxado muito o crescimento do setor, principalmente no ramo de aves. Mas, se antes os principais grupos de consumidores do equipamento incluiam de hospitais e shoppings, hoje atende a todos os setores da economia, inclusive pequenos comércios e indústrias.”
Estoque
Diante da possibilidade de escassez dos insumos em futuro próximo, a empresa está antecipando as compras e reforçando o estoque. “Fabricantes que não fizeram isso já começam a ter problemas sérios. Hoje, nosso tempo de entrega foi afetado com prazo mais elevado”, explica Filipin. As remessas que levavam entere 20 e 30 dias, já esticaram os prazos para 45 dias. Nos casos de demanda por motores maiores, o prazo é 6 meses, em vez dos 45 a 70 dias anteriores.
Victor Sant' Anna, consultor de inteligência de mercado, aponta um cenário "não muito bom. Se na próxima semana houvesse um aumento de demanda faltaria geradores para fornecimento e, se a procura continuar neste ritmo de crescimento, a situação poderá se tornar relativamente caótica."
Em 20 anos, houve significativas mudanças do uso do grupo gerador. São três os pilares desse ramo. Os motores utilizados para gerar energia em locais onde inexiste rede, como é o caso de obras em estradas e de mineração. Outros equipamentos são adquiridos apenas para funcionamento em momentos de falta de energia, como em situações de emergências em hospitais, por exemplo. E existe o grande consumidor que usa o gerador nos momentos de pico, quando o custo da energia pública é mais caro, a exemplo dos supremercados.
Para driblar picos
Jhonatan Felipe Passos de Oliveira, de 28 anos, comerciante, é de uma família com empreendimentos em diversos ramos, de supermercados, agricultura familiar e construção civil. Em todas os setores são usados geradores. Morador de Esmeraldas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ele conta que havia dificuldades de executar obras em áreas rurais, devido aos constantes picos de energia, situação que se agravava quando faltava luz no supermercado.
A aquisição de geradores permitiu expandir e ampliar os negócios. “São dois os modelos. O mais simples é movido à base de gasolina e um outro maior a diesel, mais moderno e silencioso, com partida elétrica e maior potência”, explica. Ambos os equipamentos atendem bem a todas as necessidades, segundo o comerciante.
Eles são deslocados para o supermercado da família, as plantações e a criação de animais na propriedade rural. “São garantias para qualquer eventualidade”, diz o comerciante. Os geradores garantem também a locação de sítio da família para eventos e são alugados para irrigar hortas vizinhas. Jhonatan diz sentir a falta de peças de reposição. “A mão de obra para manutenção ainda está escassa, mas o maior medo é de como será essa crise que vem se desenhando".
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