A produção industrial brasileira caiu 1,3% em julho, na comparação com junho, voltando a ficar abaixo do patamar pré-pandemia, apontam os dados divulgados nesta quinta-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Com o resultado de julho, a produção industrial ficou 2,1% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020", destacou o IBGE. Em janeiro, ela chegou a ficar 3,5% acima do que era observado antes da crise sanitária.
O gerente da pesquisa, André Macedo, destacou que "considerando apenas os meses de julho, essa queda de 1,3% foi a mais intensa desde julho de 2015, quando a produção industrial havia recuado -1,9". Ele enfatizou, também, que esse resultado deixa o setor no patamar mais baixo desde julho do ano passado.
Ainda segundo Macedo, o patamar atual da indústria está 18,5% abaixo do pico histórico da produção industrial, alcançado em maio de 2011, e equivale ao que era observado em janeiro de 2009.
- Destaques da Pesquisa Industrial Mensal de julho:
- resultado foi puxado pelo baixo desempenho da produção de bebidas e alimentos;
- efeitos da pandemia sobre a economia como um todo freiam a cadeia produtiva;
- na comparação com julho do ano passado, produção cresceu 1,2%;
- no ano, setor acumula alta de 11%;
- indicador acumulado em 12 meses avançou novamente, para 7%;
Com o resultado de julho, produção industrial voltou a ficar abaixo do patamar pré-pandemia — Foto: Economia/G1
O resultado de junho foi revisado pelo IBGE. Ao invés da variação nula (0.0%) divulgada anteriormente, houve queda de -0,2% na comparação com maio.
Efeitos da pandemia sobre a cadeia produtiva
Segundo o gerente da pesquisa, o predomínio de taxas negativas da indústria em 2021 - foram cinco quedas em sete meses - "tem como pano de fundo a pandemia e todos os seus efeitos".
Macedo destacou que no começo do ano o setor voltou a sofrer impactos diretos da crise sanitária, já que houve recrudescimento das medidas de restrição à circulação de pessoas. Nos meses seguintes, o avanço da vacinação e a flexibilização das medidas não foram suficientes para a retomada da produção industrial dados os efeitos conjunturais sobre a demanda doméstica.
Isso porque, segundo ele, a crise no mercado de trabalho - com cerca de 14,4 milhões de desempregados, precarização do emprego e retração da massa salarial - associada a constante alta da inflação impacta diretamente a renda da população, freando o consumo.
“O resultado da indústria está no escopo dos resultados de renda, emprego e inflação”, enfatizou Macedo.
O resultado negativo de julho alcançou duas das grandes categorias econômicas e foi disseminado entre os 26 ramos - 19 deles tiveram queda no mês.
Dentre as grandes categorias econômicas, as principais influências negativas no mês partiram de bens de consumo duráveis, que teve o sétimo resultado negativo seguido, e bens intermediários, que teve a quarta queda seguida.
Já bens de capital apresentou o quarto crescimento seguido, enquanto bens de consumo semi e não-duráveis apresentou alta de 0,2%, recuperando parte da perda de 1,7% observada em junho.
- Resultados de julho, na comparação com junho, por grande categoria:
- Bens de consumo duráveis: -2,7%
- Bens intermediários: -0,6%
- Bens de capital: 0,3%
- Bens de consumo semiduráveis e não duráveis: 0,2%
Pressão de bebidas e alimentos
Reflexo da baixa demanda doméstica no resultado de julho pode ser observado, segundo o IBGE, pelo baixo desempenho da produção de bebidas e de alimentos, atividades que exerceram as principais influências negativas no mês.
O ramo de bebidas teve queda de 10,2% após três meses seguidos de alta, quando acumulou ganho de 11,7%. Já o de produtos alimentícios recuou 1,8%, a segunda queda negativa levando à perda acumulada de 3,8% no período.
Outras contribuições negativas importantes para o resultado de julho partiram dos ramos de veículos automotores, reboques e carrocerias (-2,8%), de máquinas e equipamentos (-4,0%), de outros equipamentos de transporte (-15,6%) e de indústrias extrativas (-1,2%).
Já entre as sete atividades com crescimento na produção, o destaque ficou com a de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, que teve alta de 2,8% - foi o terceiro mês seguido de avanço, com crescimento acumulado de 10,2% no período.
Dinamismo na comparação interanual
Já na comparação com julho de 2020, a produção industrial avançou 1,2%. Foi a 11ª taxa positiva consecutiva nessa base de comparação e a mais intensa para um mês de julho desde 2018, quando a alta foi de 4%.
Diante disso, o indicador acumulado em 12 meses avançou para 7%, reforçando que há dinamismo do setor.
O gerente da pesquisa ponderou, porém, que essas taxas se devem, em grande parte, à baixa base de comparação, já que em 2020, a produção industrial atingiu patamares negativos históricos diante das medidas para conter o avanço da pandemia.
Indicador acumulado em 12 meses aponta dinamismo do setor industrial — Foto: Economia/G1
O resultado positivo na comparação com julho do ano passado alcançou duas das quatro grandes categorias econômicas e 14 dos 26 ramos pesquisados.
Entre os ramos pesquisados, as principais influências positivas vieram de veículos automotores, reboques e carrocerias (21,2%), metalurgia (24,8%) e máquinas e equipamentos (26,2%).
Já entre os doze ramos em queda, produtos alimentícios (-10,3%) exerceu a influência negativa mais intensa. Também se destacaram os ramos de bebidas (-15,2%), de indústrias extrativas (-2,7%), de móveis (-14,4%), de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-9,8%), de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-7,1%) e de máquinas, aparelhos e materiais.
Distância do patamar pré-pandemia
O gerente da pesquisa apontou que, embora o setor como um todo tenha recuado para um patamar abaixo do período pré-pandemia, duas das quatro grandes categorias da indústria superaram o nível de produção observado em fevereiro de 2020 - bens de capital (16,4%) e bens intermediários (0,7% acima).
Já bens de consumo duráveis e bens de consumo semiduráveis e não duráveis ainda se encontram, respectivamente, 18,2% e 7,1% abaixo do patamar pré-crise.
Expectativas
Na véspera, o IBGE mostrou que a economia brasileira encolheu 0,1% no 2º trimestre, com a indústria registrando queda de 0,2% na comparação com os 3 primeiros meses do ano.
A indústria tem sido afetada pela falta de insumos e pela alta nos preços das matérias-primas e de custos como energia elétrica. E o cenário para os próximos meses promete continuar desafiador: segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV), a confiança do setor voltou a recuar em agosto.
Apesar do avanço da vacinação contra a Covid-19 e do fim das medidas de restrição em boa parte do país, a inflação persistente, a tensão política e "riscos fiscais" (sustentabilidade das contas públicas) têm elevado nas últimas semanas o nível de incerteza sobre o ritmo da retomada e provocado revisões para baixo das previsões econômicas.
A expectativa do mercado financeiro para o crescimento da economia em 2021foi reduzida de 5,27% para 5,22%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central. Para 2022, a média das projeções está em 2%, mas parte dos analistas já vê um crescimento mais próximo de 1,5%.
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