RIO — O dólar chegou a superar a marca de R$ 5,50 enquanto a Bolsa cai nesta quarta-feira, em mais um dia de apreensão nos mercados globais. Os receios de uma pressão inflacionária global, em um cenário de crise energética e crescimento menor, fazem com que investidores vendam suas ações e procurem ativos mais seguros.
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Por volta de 11h50, a moeda americana era negociada a R$ 5,5026, alta de 0,34%, após ter alcançado a marca dos R$ 5,5207, maior cotação registrada desde 23 de abril.
No mesmo horário, o índice Ibovespa tinha queda de 1,37%, aos 108.947 pontos, refletindo as bolsas no exterior. Tanto nos EUA como na Europa, os mercados operam em baixa.
O índice Dow Jones da Bolsa de Nova York cedia 0,95% e o S&P, 0,45%. O Nasdaq tinha queda de 0,21%.
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Foram divulgados números sobre o mercado de trabalho do setor privado no país nesta quarta-feira. Segundo o relatório da ADP, foram criadas 568 mil vagas no mês de setembro, número acima do esperado.
Os dados funcionam como uma prévia do relatório do mercado de trabalho americano, o chamado "payroll", que será divulgado na sexta-feira.
A evolução do mercado de trabalho vem sendo acompanhada de perto pelo banco central americano, o Fed. Uma recuperação mais forte antes do previsto pode acelerar a retirada dos estímulos governamentais, reduzindo o ritmo de crescimento da economia.
Em paralelo, uma inflação mais alta, influenciada pelo avanço das commodities energéticas, eleva a pressão para antecipação desse movimento. Nesta semana, o barril do petróleo chegou ao maior nível em três anos.
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Diante desse cenário, a expectativa é que a diminuição da compra de ativos pelo Fed, o chamado "tapering" comece já no próximo mês.
Para o diretor da FB Capital, Fernando Bergallo, a combinação de um dia negativo no exterior com o nosso, já deteriorado, cenário interno, explicam a desvalorização do real e a queda do Ibovespa. Ele ressalta que as preocupações sobre a retirada de estímulos no exterior já vem pressionando os mercados há alguns dias.
— Havia uma aposta que esse tapering começaria a partir de janeiro e seria concluído em 2023. Mas com as falas do Jerome Powell, ficou evidente que vai começar este ano, sendo concluído em 2022.
Na Europa, além do petróleo, os preços do gás natural atingiram novas máximas, derrubando as bolsas locais. A Bolsa de Londres caía 0,94% e a de Frankfurt, 1,36%. O índice CAC 40, da Bolsa de Paris, tinha queda de 1,27%.
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A alta dos preços fez com que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmasse que o país elevará o fornecimento de gás natural para a Europa por meio da Ucrânia.
De acordo com a agências de notícias Reuters, Putin disse que as vendas de gás para o continente podem atingir um recorde, com os fluxos vindos da Ucrânia excendo os contratos estabelecidos.
As declarações fizeram com que os contratos futuros do gás natural, negociados nas bolsas de Londres e Nova York, revertessem as altas expressivas vistas no início do dia.
Cenário local não ajuda
O diretor da FB Capital destaca que as discussões sobre a prorrogação do auxílio emergencial e reformulação do Bolsa Família, mesmo sem uma garantia de fontes de recuo aumentam os riscos fiscais. Ele também cita o impasse dos precatórios.
Na terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro sancionou uma mudança orçamentária que permitirá que propostas em tramitação no Congresso Nacional sejam utilizadas como fonte de recursos para programas do governo.
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Na prática, a alteração irá atrelar o novo Bolsa Família, batizado de Auxílio Brasil, à aprovação da reforma do Imposto de Renda, que ainda está em discussão no Senado.
— Ninguém acredita mais que o governo vai ter capacidade de realizar qualquer tipo de reforma ou ajuste fiscal, considerando a proximidade da eleição. E nem a Selic subindo tem funcionado como um colchão para que dólares não saíam do país. Isso deixa claro que o investidor está pedindo um prêmio maior, já que o risco está muito alto.
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Para Bergallo, o atual patamar do câmbio demonstra como a situação interna vem se deteriorando
— Isso só demonstra como a nossa situação é crítica. Se essa Selic não estivesse subindo assim, o dólar estaria mais alto — disse o diretor da FB Capital, que enxerga um câmbio no patamar dos R$ 5, 20 por um longo período pela proximidade do ano eleitoral.
No cenário interno, os investidores ainda repercutem novos dados sobre vendas no varejo. Segundo o IBGE, as vendas no setor recuaram 3,1% em agosto, na comparação com julho. É o pior resultado para o mês da série histórica, resultado de um orçamento familiar pressionado pela alta da inflação.
Ações da Petrobras caem
Entre as ações, as ordinárias da Petrobras (PETR3, com direito a voto) cediam 2,38% e as preferenciais (PETR4, sem direito a voto), 2,48%.
As ordinárias da Vale (VALE3) tinham leve alta de 0,09% e as da Siderúrgica Nacional (CSNA3), baixa de 2,55%
As preferenciais da Usiminas (USIM5) cediam 2,76%.
No setor financeiro, as preferenciais do Itaú (ITUB4) e do Bradesco (BBDC4) tinham baixas de 1,72% e 1,76%.
Com os dados de varejo baixos, as empresas do setor também tinham perdas. As ordinárias do Magazine Luíza (MGLU3) cediam 1,97% e as da Via (VIAR3), 3,31%.
Os papéis ON da Americanas (AMER3) cediam 1,25%.
Na Ásia, as bolsas fecharam em queda. O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, cedeu 1,05%. Em Hong, houve baixa de 0,57%. A Bolsa chinesa segue fechada devido a um feriado semanal no país.
Dólar supera R$ 5,50 e Bolsa cai, com receio de inflação e crise energética em grandes economias - Jornal O Globo
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