RIO — Quase sete horas de apagão social. O Facebook, a maior rede social do mundo, sofreu uma queda global, que arrastou ainda o Instagram e o WhatsApp, o aplicativo de mensagens mais usado pelos brasileiros. Em meio a uma pandemia que tornou a comunicação virtual uma regra, famílias tiveram dificuldade de se comunicar, funcionários de empresas enfrentaram problemas para trabalhar e empreendedores recorreram até ao SMS para poder atender os clientes.
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O impacto foi grande: em julho, o Facebook tinha 2,85 bilhões de contas, segundo o portal de estatísticas Statista. Já o WhatsApp 2 bilhões, e o Instagram, 1,38 bilhão.
A última interrupção significativa do Facebook foi em 2019, quando um erro técnico afetou seus sites por 24 horas. A falha, conforme apontado pelo site da própria rede social, teria sido no chamado sistema de nome de domínio (DNS, pela sigla em inglês).
Perda de US$ 47 bi
O fundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, perdeu US$ 6 bilhões com a queda de 4,89% das ações da empresa, a US$ 326. Com isso, ele recuou para o quinto lugar no ranking de bilionários da Bloomberg, estando agora atrás de Bill Gates. A empresa perdeu US$ 47,3 bilhões em valor de mercado.
Os papéis já haviam aberto em baixa, devido à entrevista, na noite de domingo, da ex-gerente da rede Frances Haugen, que entregou ao Wall Street Journal diversos documentos sobre a conduta tóxica da empresa.
Pequenos empresários brasileiros que, na pandemia, se apoiaram nas redes sociais para vender tiveram de recorrer ao SMS, o velho “torpedo”, para reduzir os prejuízos. Bárbara Moraes, dona da Bibelu, loja de roupas para mães e filhas na Barra da Tijuca, contou que ficou “tecnicamente parada”.
— Quase 90% da minha receita vêm das vendas pelos canais digitais — disse Bárbara, que usa o Instagram para atrair a clientela e depois finaliza as vendas no WhatsApp. — Eu não uso muito outras redes, como TikTok e Telegram. Já tinha escutado que não deveria ficar dependente de uma rede, mas as que mais dão retorno são do mesmo grupo.
Para tentar contornar a falta das redes sociais, a empresária ligou para as clientes com os pedidos em andamento, mas lamenta a perda de novas vendas:
— Segunda é um bom dia, com média de dez compras. Hoje (ontem) foram só quatro. E ainda tem o fato de que é a véspera do Dia da Criança, ou seja, seria uma segunda-feira com mais pedidos.
A instabilidade do WhatsApp afetou outras áreas. Caso do salão Care Body And Soul, em Ipanema, na Zona Sul carioca. A dona, Ivani Werneck, explica que segunda-feira é dia de fazer os agendamentos da semana:
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— Não conseguimos trabalhar porque nosso agendamento atualmente é todo feito pelo WhatsApp. E não temos nenhum cliente agendado para esta semana.
Já na região da Grande Salvador, na Bahia, a pane afetou cerca de 40 comerciantes que usam o delivery TrazFavela. O serviço é feito todo através do WhatsApp e conecta lojas, farmácias e mercados com cliente e entregadores que moram na periferia. A saída foi pegar no telefone para ligar para os clientes e monitorar as entregas via SMS.
— Estamos ligando para os clientes que tinham pedidos, mas o problema atrapalhou novas entregas. Não recebemos mensagem, ninguém ligou e não conseguimos finalizar algumas vendas. O pior é que início de mês é bem movimentado. De uma média de 15 pedidos por dia, hoje foram só quatro — relata Ana Luiza Sena de Jesus, CEO do TrazFavela.
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O uso das redes como ferramenta de vendas tem sido uma estratégia do próprio Facebook. O grupo criou o WhatsApp Business, que desde este ano oferece a opção de fazer transferência bancária pelo app.
Mais cedo, uma equipe de funcionários foi enviada ao centro de dados do Facebook em Santa Clara, no estado da Califórnia, para tentar uma “reinicialização manual” dos servidores, de acordo com um memorando interno divulgado pelo jornal The New York Times. Dois membros da equipe disseram que um ataque cibernético era bastante improvável.
Memes e cripto
Depois que os serviços foram retomados, Facebook, Instagram e WhatsApp publicaram mensagens pedindo desculpas aos usuários. O próprio Zuckerberg postou na rede social: “Facebook, Instagram, WhatsApp e Messenger estão retornando. Desculpem a disrupção hoje — sei o quanto vocês confiam em nossos serviços para se conectar com as pessoas.”
Enquanto o apagão durou, os internautas encheram de memes as redes sociais concorrentes. Um tema que rendeu foi a série coreana “Round 6”, em que participantes de jogos são eliminados — mostrados como Facebook, Instagram e WhatsApp.
No início da noite, Zuckerberg fez uma participação ao vivo em um canal de criptomoedas. Mas quem quisesse assistir teria de pagar, no mínimo, US$ 4,9 mil em bitcoins ou US$ 3,4 mil em ethereum.
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