RIO - O modelo de trabalho híbrido veio para ficar e será, a médio prazo, um desafio maior para as empresas do que o enfrentado em 2020, quando foi preciso colocar equipes inteiras em regime remoto de uma hora para outra. Esta é a avaliação da presidente da Microsoft Brasil, Tania Cosentino, que alerta que será preciso adotar estratégias para que todos se sintam incluídos e para preservar a saúde mental dos funcionários.
Em entrevista ao GLOBO por Teams, a executiva explicou novas funcionalidades do Windows 11, e a conversa terminou quando o aplicativo a alertou que ela estava há tempo demais em frente a uma tela e precisava fazer exercícios respiratórios antes do próximo compromisso.
Tania destaca a necessidade urgente de o Brasil treinar mão de obra, o que exigirá o engajamento das empresas: “É preciso requalificar 45 milhões de profissionais até 2025, 2030 já será tarde”.
A pandemia impôs o desafio do trabalho remoto e, agora, muitas empresas buscam o modelo híbrido. Como a tecnologia pode ajudar nessa transformação?
Foi um desafio enorme essa transição. Saímos de um mundo presencial para um mundo remoto. E ninguém sabia quanto tempo ia durar. A gente falava que ia ser de 30 a 60 dias e já estamos há um ano e meio fora do escritório.
Tivemos que mover dezenas de milhares de funcionários para a nuvem (armazenamento de dados em internet) com segurança. Tivemos que habilitar escolas do dia para noite. E acelerar os investimentos em data center para garantir disponibilidade, resiliência e baixa latência no Brasil. Foram dez anos em dez meses.
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Passado esse primeiro susto, os clientes viram que a tecnologia traz benefícios para suas operações, é um habilitador da transformação. Agora, percebemos que os clientes estão engajando em outro tipo de conversa. Querem manter a velocidade de transformação de forma estruturada. E o mercado de nuvem cresce de forma exponencial.
Muitos clientes estão pensando no modelo híbrido perene?
Sim. Temos uma série de pesquisas sobre o futuro do mercado de trabalho. Os profissionais estão dizendo: “Quero poder trabalhar onde estou”. O local de trabalho mudou de endereço. Isso se mostrou conveniente, efetivo. Nossas ferramentas mostram que não se perdeu produtividade. Ao contrário. Todo mundo trabalhou mais. Por isso, entramos nessa onda de burnout.
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Nossos funcionários não querem voltar ao modelo antigo, 100% presencial, mas também não querem ficar totalmente distantes dos colegas, querem mais troca. É um paradoxo, o grande desafio das empresas hoje. Por isso, estamos investindo bastante em pesquisa para auxiliar nessas demandas. Ambiente híbrido é o futuro. Se vai ser 50%/50% (remoto/híbrido) ou 70%/30% para um lado ou outro, cada empresa tem que entender o desenho do seu negócio. As que não trabalharem esse tema de forma adequada vão perder talentos.
O híbrido é mais difícil que o 100% remoto?
O trabalho remoto foi um grande desafio, mas híbrido é ainda mais desafiador. Já vimos isso com o retorno às aulas. E não é nada inclusivo, pois o aluno não consegue ouvir o professor falando. Como a gente dentro do ambiente de trabalho garante que esse retorno híbrido é inclusivo? O escritório vai ser um ambiente de homens brancos, e as mulheres e os grupos sub-representados vão ficar em casa porque têm outras responsabilidades? Como a empresa garante que inclui e não exclui?
Nossa grande preocupação hoje é construir uma sala de reunião que seja inclusiva. No remoto, estamos todos na mesma condição. Mas se uma parte está na empresa e você está remoto, pode fazer perguntas e não ser ouvido nem participar das conversas paralelas, que podem ser muito interessantes.
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Como garanto que, mesmo numa reunião com a maioria das pessoas presentes, todos abram seus computadores e suas câmeras para quem estiver remoto enxergar e que a gente mantenha a conversa paralela que hoje é no chat do Teams para que todos possam opinar? São algumas preocupações para garantir um ambiente inclusivo.
E como a estratégia da Microsoft se encaixa nisso?
O Teams mudou de cara, pois era uma ferramenta de produtividade e colaboração e fazia videoconferências. Chegou uma plataforma só de vídeo e começou a ganhar mercado. Melhoramos a funcionalidade de vídeo do Teams para atender aquele público que não tinha afinidade com a ferramenta. Percebemos um aumento das funcionalidades das plataformas, das informações monitoradas. E transformamos esses dados em insights.
Criamos uma plataforma, a Viva, que trabalha a experiência do colaborador. Temos carga acima de 12 horas de trabalho, várias reuniões emendadas uma na outra, sem tempo para respirar. Essa plataforma dá os índices de produtividade, dá insights de como você está trabalhando e sugere intervalos e exercícios respiratórios. Esse é um lado importante para que a gente tenha um melhor equilíbrio do colaborador, para que a saúde mental seja preservada.
O Windows 11 contempla as mudanças trazidas pela pandemia?
Queremos conquistar mais a fluidez do uso da tecnologia. A grande dor de toda essa história bonita da tecnologia é o aumento dos ataques, a vulnerabilidade quando se fala em cibersegurança. O Windows traz mais segurança, fator de multiautenticação, biometria e permite a configuração de telas de forma diferente. São funcionalidades que aumentam a produtividade.
Qual é a importância do Brasil para a empresa?
O Brasil é importante mais pelo potencial que representamos. São 220 milhões de habitantes. O mercado vem acelerando. Somos early adopters (adeptos precoces) de tecnologia. Olha o sucesso das mídias sociais, como o próprio LinkedIn (que é da Microsoft). Em nuvem não é diferente. O Brasil demorou a pegar velocidade, mas hoje temos uma dinâmica nas grandes empresas e start-ups.
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Outro ponto é o número de unicórnios que estão sendo criados. Agora estamos no ritmo de Israel e isso atrai os olhos da companhia. Por isso, desenvolvemos mais funcionalidades na língua portuguesa. E consegui ano passado disponibilizar uma série de trilhas de treinamento (para usuários avançarem nas ferramentas da Microsoft) em português.
E o desafio da mão de obra?
O mundo de TI sofre porque todas as empresas são de tecnologia hoje, uma start-up ou um restaurante. Todas demandam desenvolvedores, profissionais de segurança e cientistas de dados. A cada ano formamos cerca de 45 mil profissionais, e o mercado demanda 70 mil. Isso piorou na pandemia. E ficamos brigando pelo mesmo talento, o que não é saudável, inflaciona o mercado e, o pior, atrasa a transformação digital das empresas.
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A falta de mão de obra é obstáculo para o desenvolvimento econômico do Brasil. As empresas precisam entrar nesse jogo e acelerar a qualificação profissional. Como eu pego as pessoas que estão na parte de baixo da pirâmide e as requalifico para lutar por esse mundo de trabalho que paga melhor?
A nossa janela de tempo é muito reduzida. Temos que fazer isso até 2025, 2030 já será tarde. Estudos mostram que o Brasil precisa requalificar 45 milhões de profissionais até 2025. É muita gente. Precisamos redesenhar nossa educação.
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