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Wednesday, December 1, 2021

Opinião: Nubank vai estrear na Bolsa de Nova York; preço das ações vale a pena? - UOL Economia

O mercado financeiro está agitado pela entrada do Nubank na Bolsa de Valores dos Estados Unidos (NYSE). Marcada para dia 8 de dezembro, a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) foi anunciada em comunicado no blog oficial da empresa e tem deixado os investidores curiosos. Como investir no Nubank? O preço das ações do banco digital vale a pena?

O assunto é tratado por Felipe Bevilacqua, analista da Levante Ideias de Investimentos em seu relatório desta semana de carteira recomendada para investidores. Saiba mais sobre a história do Nubank e desvende seu modelo de negócios — e se o preço estimado da oferta faz sentido, de acordo com o analista.

O que é o Nubank?

O Nubank é um dos maiores bancos digitais da atualidade, com 48,1 milhões de clientes presentes no Brasil, México e Colômbia. A maioria (97,8%) são pessoas físicas, contra somente 2,2% (1,1 milhão) de contas de empresas.

Fundada em 2013 e de origem brasileira, a startup do setor financeiro se tornou querida por oferecer serviços como cartões de crédito, poupança — por meio das chamadas NuContas — e investimentos com tarifas mais baixas e procedimentos mais simples do que os bancos tradicionais. Todos os produtos oferecidos pelo Nubank são 100% digitais e buscam simplificar, baratear e tornar mais conveniente a jornada financeira de seus clientes.

A empresa conta atualmente com uma base de clientes engajada e satisfeita com a qualidade e os custos dos serviços oferecidos. Além disso, o Nubank constata que quem opta por seus serviços, como a conta bancária principal, tem economizado mais em relação a bancos tradicionais e concorrentes.

Uma brecha na América Latina

O setor de serviços financeiros na América Latina, região que é foco na estratégia de expansão do Nubank, ainda tem um longo caminho a percorrer — apesar da população total de 652 milhões de pessoas e PIB de cerca de US$ 4,5 trilhões, segundo dados do Banco Mundial de 2020.

Segundo levantamento feito pelo próprio Nubank, os mercados de Brasil, México e Colômbia representam, juntos, 60% da população e 61% do PIB da América Latina. Apesar do banco digital se concentrar nesses países, a concentração de bancos neles permanece relativamente baixa em comparação às economias desenvolvidas, como os Estados Unidos.

Este dado pode ser verificado ao se analisar o grande número de adultos que permanecem sem conta bancária nessa região, além do baixo nível de endividamento das famílias e pouco uso de cartões de crédito.

Como principais motivos para essa baixa aderência, o estudo pontua o mau atendimento dos bancos tradicionais, o que faz com que os clientes se sintam muito insatisfeitos com a experiência, ou, ainda, sejam "desbancarizados" (não mantenham contas em bancos).

É nesse mercado pouco explorado e com o crescimento do acesso à internet na América Latina que o Nubank enxerga uma oportunidade de crescer ainda mais, sendo uma alternativa frente aos bancos tradicionais.

O segredo do sucesso

Sendo hoje um dos maiores bancos digitais do mundo em número de clientes, o Nubank busca captar novos clientes com um baixo custo. Com um crescimento e engajamento da base de clientes, a companhia consegue, então, oferecer produtos e experiências melhores a preços atrativos.

Com um maior engajamento dos clientes, mais dados são coletados deles, melhorando a concessão de crédito com menores custos por entender o perfil de risco de quem adere ao banco. Assim, é possível ofertar produtos e serviços com menores taxas, o que beneficia a experiência do consumidor e capta novos clientes para a empresa.

Esse processo todo se repete, fazendo com que o ecossistema do Nubank continue crescendo.

O "boca a boca"

Além disso, segundo a companhia, cerca de 80% a 90% dos clientes foram obtidos de forma orgânica, ou seja, por meio da indicação direta não paga de um cliente existente ou pelo "boca a boca".

Isso significa que o Nubank gasta menos dinheiro em publicidade e estratégias de marketing visando atrair novos clientes do que a concorrência. Afinal, uma clientela satisfeita e disposta a divulgar o seu produto é a melhor forma de fazer propaganda — pois não gera custos e é natural.

Para oferecer um serviço de qualidade, o Nubank construiu a própria plataforma de banco baseada em nuvem, sem depender de sistemas bancários e processadores de cartão de crédito de terceiros. A companhia também investe em ferramentas de suporte automatizadas e em uma equipe de atendimento treinada, os Xpeers.

A empresa segue com estratégias de expansão de seus negócios, tento em termos geográficos, com presença crescente em outros mercados latino-americanos, quanto setoriais, enxergando oportunidades nos setores de comércio eletrônico, saúde e telecomunicações.

A chegada na Bolsa de Valores

Diante do crescimento exponencial em menos de uma década de existência, o Nubank decidiu dar o próximo passo e abrir seu capital na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE).

A oferta pública inicial (IPO) da companhia está programada para o dia 8 de dezembro, quando será definido o preço das ações, que serão negociadas sob o ticker NU.

A fintech espera chegar à NYSE com um preço por ação entre US$ 10 e US$ 11. Caso atinja o preço de US$ 11, o valor de mercado do Nubank chegará a US$ 50 bilhões, suficiente para garantir à empresa o posto de instituição financeira mais valiosa do Brasil, superando Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC4).

Além disso, serão disponibilizadas BDRs (Brazilian Depositary Receipts), títulos emitidos no Brasil que têm lastro em ações de empresas listadas no exterior, que serão negociadas sob o ticker NUBR33. O preço estimado para as BDRs está entre R$ 9,35 e R$ 10,29, e cada título representará 1/6 das ações ordinárias da companhia.

Mas como é possível que uma empresa que ainda não dá lucro valha mais que os bancos tradicionais mais lucrativos do Brasil?

A difícil missão de colocar um preço no Nubank

Startups são, por definição, organizações que operam em um ambiente de extrema incerteza. Por conta disso, o valuation — como é chamado o processo de avaliação que visa determinar quanto uma empresa de fato vale — destas companhias é um processo desafiador.

Empresas maduras de baixo crescimento, como os grandes bancos, são avaliadas levando em consideração os lucros e os dividendos distribuídos. Já as de crescimento, como as startups, são avaliadas por diversas variáveis de receita, vendas brutas, ou até mesmo de dados operacionais, em uma tentativa de prever quão bem-sucedidas essas companhias podem ser no futuro.

A análise é realizada dessa forma, pois empresas embrionárias, na maioria das vezes, não geram resultado logo no início — na realidade, muitas vezes apresentam prejuízo nos primeiros anos de operação.

Nesse contexto, os avaliadores de startups passaram a desenvolver métricas mais usuais e adaptadas para empresas jovens e promissoras.

Essencialmente, uma companhia vale a sua capacidade atual mais a sua capacidade futura de pagar dividendos. O Nubank ainda não é capaz disso, mas um dia há de ser. Sendo assim, acreditamos que, cedo ou tarde, a fintech deve ser avaliada da mesma maneira que os demais bancos do mercado — mas ainda é cedo, difícil e, no limite, errático, realizar qualquer previsão de lucros e retornos do banco digital.

Ainda assim, o preço cobrado pelo Nubank em seu IPO parece ignorar todos os riscos atrelados a uma empresa de tecnologia que tem como foco o crescimento, e coloca a fintech brasileira em patamares de valor de mercado dignos de empresas de tecnologia já consolidadas e com presença global.

Em termos de produtos e serviços, não temos dúvidas da qualidade daquilo que é oferecido pelo Nubank. Mas a forma como a companhia irá utilizar sua vasta base de clientes para consolidar um modelo de negócios lucrativo ainda merece atenção. Especialmente diante do processo de digitalização dos bancos tradicionais e da revolução na forma de realizar pagamentos trazida pela implementação do Pix, o sistema de transferências de recursos do Banco Central, no Brasil.

Conclusão

Não há dúvidas de que o futuro será tech, e é evidente que as empresas de tecnologia ganham cada vez mais espaço no mercado global. Quando surge a oportunidade de alocar capital em uma empresa participante deste universo, os investidores tendem a se empolgar, buscando encontrar a próxima Amazon ou a próxima Google.

Por outro lado, a realidade é mais complexa, e não enxergo fundamentos que justifiquem o preço pedido pelo Nubank no seu IPO, que estaria mais compatível com o valor de mercado de uma empresa de tecnologia mais consolidada e com presença global.

Apesar do valuation esticado e da incerteza em torno da rentabilidade do negócio no longo prazo, o preço das ações deve seguir a tendência internacional de ações ligadas à tecnologia, que estão em um bom momento em função dos juros baixos dos EUA, que hoje permanecem entre 0 e 0,25%.

Veja aqui o relatório com tudo que você precisa saber sobre as ações do Nubank

Para quem ainda não pegou as recomendações de investimentos, elas estão a seguir:

- Carteira para quem não aceita risco algum

- Carteira para quem tem perfil mais conservador, mas aceita um pouquinho de risco

- Carteira para quem é mais moderado

- Carteira para quem aceita mais risco

- Carteira para quem aceita alto risco

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