Fintechs de pagamento enfrentam 1º teste na Bolsa: ações despencam, com juros altos - Jornal O Globo
SÃO PAULO - Em meio à maior necessidade de financiamento que o mundo tecnológico exige e ao aumento dos juros no Brasil, as ações das chamadas fintechs de pagamento estão passando por uma forte correção de preços em seu primeiro teste de resistência no pregão, dizem analistas.
Os papéis de empresas como Stone e PagSeguro, negociados na Bolsa americana Nasdaq, acumulam perdas de 32,94% e 13,78% nos últimos cinco pregões; em seis meses, a desvalorização chega a 72% e 39%, respectivamente.
Essas empresas também têm recibos de ações negociados na B3, os chamados Brazilian Deposit Receipts (BDRs), que seguem o movimento de desvalorização das ações nos EUA.
Para Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, a trajetória de alta dos juros no Brasil prejudica as fintechs de meios de pagamento ao encarecer o custo de sua operação e também da captação de recursos, dada a necessidade de investimentos.
— E, diferentemente dos bancos digitais, essas fintechs têm um mix mais restrito, não conseguem oferecer tantos produtos ao consumidor. A Stone, por exemplo, tentou oferecer crédito e teve problemas. Além disso há o Pix, que reduz a margem de geração de receitas — diz Crespi.
Nos Estados Unidos, os juros dos títulos do Tesouro americano também sinalizam alta, com previsão de um futuro enxugamento de liquidez.
— A Nasdaq só respira bem quando os juros estão atraentes para alimentar a incansável necessidade de investimentos que exige o mundo tecnológico. Por aqui, com a alta da inflação, quem mais perde é a classe de renda que é o foco dessas fintechs, os desbancarizados. A inadimplência está batendo na porta — diz o analista da Senso Investimentos João Frota.
Os números divulgados pela Stone, referentes ao terceiro trimestre deste ano, já mostram menos fôlego do que esperava o mercado. Apesar de crescimento de 8% nas transações, o lucro líquido caiu 54% em relação ao mesmo período de 2020, para R$ 132,7 milhões. Analistas esperavam, em média, lucro líquido de R$ 193 milhões.
O analista da Avenue William Castro Alves lembra, no entanto, que o prejuízo contábil da Stone ficou em R$ 1,26 bilhão no período devido à desvalorização das ações do Banco Inter.
Em junho deste ano, a Stone aportou R$ 2,5 bilhões no Inter, ficando com uma fatia minoritária de 4,9%. Nos últimos seis meses, as ações do banco Inter desabaram mais de 50%.
— A desvalorização das ações do Inter afetou os números da Stone no terceiro trimestre — disse Alves.
Custo de integração
A queda dos papéis da Stone contagiou as ações da PagSeguro, sua principal concorrente. Desde a semana passada, analistas de grandes bancos já vinham colocando em xeque a tese de investimentos dessas fintechs de pagamento.
O Bradesco BBI, por exemplo, rebaixou a recomendação para as ações da Stone de neutro para underweight (abaixo da média do mercado).
Na análise do Bradesco BBI, a expectativa de lucro da empresa este ano caiu 58%, para R$ 745 milhões. Em um relatório divulgado no fim de semana, liderado pelo analista Otavio Tanganelli, o Bradesco BBI cita a alta de custos operacionais que a Stone deve ter para a integração da Linx, empresa de software especializada em varejo, comprada no fim do ano passado por R$ 6,7 bilhões.
“A StoneCo deve enfrentar a pressão da integração de custos mais altos da Linx e investimentos em tecnologia, vendas e marketing”, diz o relatório.
Os analistas do Bank of America (BofA) reiteraram a sua visão neutra para as ações da Stone, com preço-alvo de US$ 59. A ação fechou ontem a US$ 17,53.
“É importante ressaltar que a empresa não apresentou sinergia de receita ou de custo com a aquisição da Linx”, escreveram os analistas Mario Pierry, Antonio Ruette e Flavio Yoshida, do BofA.
Incerteza da recuperação
Para o banco Goldman Sachs, o resultado mais fraco da Stone no terceiro trimestre deveu-se principalmente às maiores despesas financeiras, devido ao aumento das taxas de juros. A empresa também investiu R$ 120 milhões para o crescimento do negócio no período.
“Acreditamos que os resultados criam incerteza adicional quanto ao momento da recuperação do negócio”, escreveram os analistas do banco.
Durante a teleconferência de resultados do terceiro trimestre, lembrou o Goldman Sachs, a Stone destacou as necessidades de maiores investimentos a curto prazo, a fim de explorar oportunidades de mercado de longo prazo em micro e pequenas e médias empresas.
Apesar do resultado mais fraco no período, o Goldman Sachs manteve a recomendação de compra dos papéis.
Os analistas do BTG também mantêm a recomendação de compra para os papéis do PagSeguro, apesar dos desafios relacionados ao aumento das despesas financeiras.
No comments:
Post a Comment