SÃO PAULO – A equipe econômica da XP elevou suas projeções de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 8,4% para 9% em 2021 e manteve expectativa de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescerá 5,3% este ano, mas alerta que o viés nessa projeção é de baixa.
Segundo os economistas da casa, a recuperação dos setores da economia brasileira tem sido muito heterogênea, com ampliação das preocupações acerca da capacidade da indústria local. Além disso, o setor externo também não está mais tão benigno como antes.
“A China vem desacelerando mais do que o esperado, em meio aos problemas de endividamento da Evergrande, ao crescente controle regulatório e ao risco de escassez de energia. Nos EUA, o Federal Reserve deve começar a redução dos estímulos monetários, que, mesmo necessária, sempre traz apreensão aos mercados”, resume a XP em relatório.
Completa o balanço de riscos a preocupação com a gestão das contas públicas, uma vez que a Câmara dos Deputados aprovou o “Vale Gás” para o ano que vem e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) deve fechar acima de 9%, o que adiciona R$ 10 bilhões ao “buraco” de R$ 70 bilhões previsto na proposta orçamentária do governo.
“Os próximos 30 dias serão cruciais. É fundamental garantir um orçamento equilibrado para 2022, que preserve o espírito das regras fiscais existentes, especialmente às vésperas de um ano que promete ser desafiador aqui e no mundo”, defendem os economistas.
Para a XP, o PIB brasileiro deve crescer 0,5% no terceiro trimestre conforme a reabertura de atividades como alimentação fora de casa, hospedagem, turismo, educação e saúde puxam o avanço da economia. Entretanto, o aumento da inflação reduz a renda das famílias, o que pode frear essa dinâmica.
Fora isso, o principal problema continua lá, o gargalo na cadeia de suprimentos, que tem aumentado custos em diversas indústrias. “Muitas empresas sofrem com os prazos mais longos de entrega de insumos, marcados por dificuldades adicionais nos serviços de logística global e na importação de bens intermediários”, explica a XP.
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A expectativa é de que em setores como o automotivo a normalização do fluxo de insumos não ocorra antes do segundo trimestre de 2022, ao mesmo tempo em que toda a indústria do país sofre com o aumento nos preços da energia elétrica e de combustíveis.
Outro ponto a ser monitorado é que a divulgação do PIB pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) passará por incertezas tais quais a incorporação da série revisada do PIB anual, o impacto da melhoria de variáveis do mercado de trabalho acompanhadas pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) e a intensidade da recuperação em serviços de administração, saúde e educação públicas.
A XP espera que o PIB do Brasil cresça 1,3% em 2022, o que justifica pelo balanço entre política monetária mais contracionista e melhoria das perspectivas para as safras agrícolas. “Reforçamos que a projeção de crescimento do PIB de 2022 considera um efeito de carrego estatístico (carryover) próximo a 1% deixado pelo PIB de 2021″, ressalva.
Um dos problemas para o ano que vem é que embora o mercado de trabalho tenha mostrado um início de recuperação o retorno do nível de emprego aos patamares pré-pandemia deve ocorrer somente no fim de 2022.
“Com isso, projetamos que a taxa de desemprego nacional publicada na Pnad Contínua atingirá 12,8% no final de 2021 (de 14,7% em dezembro de 20 e 13,6% em julho de 21, descontados os efeitos sazonais) e 12,0% no final de 2022”, preveem os economistas.
Em relação à inflação, a XP aponta que a elevação das cotações das commodities, a depreciação do real e o aumento dos custos dos insumos da indústria impactaram principalmente alimentos e energia. Somado a essa pressão, o segundo semestre tem ainda o efeito da normalização do setor de serviços, que já acumula 1,94% de inflação contra 1,73% ao longo de todo o ano de 2020. “Com o avanço da vacinação, esperamos que a inflação deste grupo continue subindo e encerre o ano em 4,5%.”
Para 2022, a XP elevou suas projeções de inflação de 3,7% para 3,9%, ainda trabalhando com a hipótese de arrefecimento nos preços de commodities da ordem de 5% combinada com os juros mais altos praticados pelo Banco Central e com a desaceleração da atividade econômica.
A respeito da política monetária, os economistas preveem que a taxa básica de juros, Selic, encerre o atual ciclo de aperto em 9,25% ante projeção anterior de 8,50%. Seriam mais duas altas de um ponto percentual este ano, uma de 0,75 p.p. em fevereiro e outra de 0,25 p.p. em março de 2022.
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Por fim, as projeções fiscais da XP se mantiveram em déficit primário de 1,1% do PIB para 2021, mas com relação dívida/PIB chegando a 80,4%, ante previsão de 78,6% anteriormente, “refletindo a taxa Selic ainda mais elevada e ajustes levados pela queda do minério no deflator do PIB”.
Nessa frente, a XP lembra que ainda não se sabe como o governo vai lidar com a aceleração dos precatórios e com a demanda política de elevar o programa Bolsa Família – ou prorrogar o Auxílio Emergencial. “Estas indefinições, em meio a um orçamento público apertado pelo aumento recente da inflação, mantém os riscos fiscais prospectivos elevados.”
O cenário atual da casa prevê que a solução dos precatórios abrirá R$ 50 bilhões em espaço no teto de gastos, acomodando o aumento da inflação no segundo semestre e a expansão de R$ 30 bilhões no orçamento do Bolsa Família. “Usamos como hipótese para as projeções de resultado primário e dívida que o governo pagará integralmente os R$ 89 bilhões de precatórios em 2022 (parte ou integralmente fora do teto).”
É estimado um déficit primário de 0,7% do PIB para 2022 e projeta-se que a dívida bruta alcance 83,1% do PIB (contra 81,7% anteriormente).
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